segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Resistência



Não acho que as mães devam ser mãe sacrifício, mãe que dobra a espinha pela cria e que desaparece em um caracol de tão dobrada que fica, ainda mais se estão grávidas, vivenciando um turbilhão de emoções e cheias de fragilidade.

Mas normalmente são essas as coisas que pedem às mulheres grávidas quando se trata dos pais dos seus filhos: "engula", "silencie", "perdoe", "esqueça"... "Ele tem o direito de curtir a gravidez e você deve estar a disposição pra isso." 
E se a mulher por algum motivo não quer chegar perto dele? Aí ela escuta: "Como você está sendo egoísta, injusta", "Você quer fazer alienação parental?", "Depois se ele não quiser assumir a paternidade, a culpa será sua."



Se a mulher tem uma barriga que cresce, mesmo que seja de alguém que lhe deu as costas e que lhe magoou ou até mesmo quando deu as costas pra essa barriga (que é da mulher, que é a mulher também), ela tem que aceitar quando esse pai decide se aproximar e parece que deve agradecer porque ele quis se aproximar e ela tem mais é que se contentar com isso.

Mas ela tem mesmo?
"É o pai do seu filho", lhe dizem.
É. É o pai do seu filho...
E por vezes não é nem esse pai que cobra tudo isso. Por vezes ele até se esforça pra lembrar que além do filho que é dele, há a mulher que um dia ele possa ter magoado. As vezes ele até respeita a distância e participa da gravidez de uma forma que não fira ainda mais a mulher que um dia ele possa ter amado... mas quando não é ele diretamente, a sociedade (não a mais distante, mas até os amigos, as famílias de ambos) cobra isso. E que doa a quem doer que o pai possa ser pai, mesmo desde a gestação.

O pai é importante na nossa estrutura social. Cobra-se a sua presença. De uma forma bem peculiar (de uma cobrança não cobrada, de um essencial que é ausente, mesmo quando presente...)

Mas não são as mulheres as mães? Não são elas que carregam a cria, que estão alimentando e gerando? E "atrás" dessa mãe não existe, por acaso, uma mulher, existe também uma pessoa?

As mulheres não deixam de ser elas mesmas nesse processo. Elas existem, estão ali, sabe? Não são chocadeiras. Não são barriga, peitos e despreendimento. E depois da criança nascida, não serão só a mãe dela. Elas também serão mãe. Mas serão pessoas também.


Mas voltemos à participação na gestação... Pra permitir esse acompanhamento da gravidez o contato é inevitável, já que não há como ser intermediado por um terceiro. É saudável esse acompanhamento pra se gere o vinculo pai/filho/a, dizem. É, é verdade, mas desde que a mulher que gera se sinta bem com esse contato.

E aí eu me pergunto: diante dos encontros com os pais, como as mulheres têm que se deparar com eles? Até onde eles podem ir? Pode-se deixar que eles tocar na barriga, que beijem? Deve-se suportar um abraço quando ainda há mágoa presente? Deve-se forçar uma relação de amizade? 

E se ela sente um aperto no peito e medo só de imaginá-lo a tocando? E quando a aproximação dele vem uma sensação de dor e tudo que ele disse a ela antes e mesmo fez chegam em enxurrada e que lhe fazem tremer e chorar? O que fazer?

O filho que estufa a barriga é dos pais também, é deles também.  Também. Esse "também" quer dizer que existe outra pessoa ali: a mulher. A barriga é da mulher. O corpo é dela. O corpo é ela. E quem pode determinar o limite senão ela? É quem somos nós pra julgar esse limite que ela está dando?

"Mas é o pai do seu filho, você tem que permitir que ele se aproxime", lhe dizem.
Mas é ela ali. E essa barriga faz parte dela. E é o corpo dela.

Antes de falar a alguém "é o pai do seu filho", pense em falar "é o seu corpo, faça o que lhe é desejável, haja pelo menos até onde o seu coração não estiver em frangalhos. Se isso quer dizer que vai deixar o pai do seu filho lhe tocar, se vai conseguir lhe dar um abraço ou se o seu limite é simplesmente estar no mesmo local onde ele esteja e lhe dirigir a palavra com tranquilidade, o que importa é que você só caminhe até onde é o seu limite."

Uma afirmação dessa é muito mais respeitosa. 

Mas dá pra fazer uma torcida silenciosa para que tudo fique bem e tranquilo, que se esqueçam as mágoas, que todas e todos virem uma grande família onde até as/os novas/os companheiros/as de um e outra até se dêem muito bem. A torcida pode ser feita. Isso dá pra fazer, pra que todo mundo fique sossegado e feliz... a mãe, que é uma pessoa, o pai, que é outra pessoa e a criança, que é outra. Isso é louvável.

Só não confunda a sua torcida com o pedido pra mulher esquecer de ser ela mesma em nome de um padrão de família que só causa mal estar quando não se há o terreno pra que ela floresça.

Não esqueçam que atrás da barriga e dos peitos que incham há uma mulher que nunca esteve tão frágil em toda a sua vida. A respeite. Lhe dê a mão. Não a julgue. A onda de amor que pode surgir desse ato de respeito e compreensão chega até o bebê... e mais...  eu acredito que pode encher tanto da mulher a tal ponto, que essa energia transborde e se expanda pra fora dela, a iluminando e ela passe a ser sol que ilumina o mundo...
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 Anônima

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