quinta-feira, 21 de março de 2013

Para a Indomável sonhadora

Retiro o que pensei. Ela DEVERIA ter ganhado o Oscar de melhor atriz. Mas não ganhou. E os motivos pra mim são óbvios: ela é criança. E negra. Mas como assim, existe racismo em Hollywood? Tantas atrizes negras já receberam o prêmio de melhor atriz... Tantas não, 12 (contanto as atrizes coadjuvantes) em 83 premiações. Enfim, é velado...



Assisti à premiação da estatueta de ouro desse ano sem ter visto nenhum dos filmes indicados, só de curiosidade mesmo. Fiquei um pouco impressionada com a indicação de uma criança, achei um pouco exagerado. Mas com base em que eu tinha tirado essa opinião? Com base no meu preconceito, afinal, pensava eu, uma criança tem que ser muito boa para merecer o Oscar aos seis anos de idade. Mas depois de ouvir o apresentador do evento realizar uma piadinha misógina e um comentário degradante sobre ela ser “cunt” (termo pejorativo para vagina, que dito a uma mulher é como chama-la de piranha, vadia, e dai pra baixo), tornou-se imperioso para mim assistir ao filme do qual ela era protagonista. Ora, se faziam tanto alarde em torno da sua indicação e a insultavam é porque a atuação dela era boa demais para os brancos de Hollywood não se importarem.



Hoje era o último dia de exibição do filme e queria porque queria vê-lo. Fui sozinha. No começo, o frio da sala de cinema me incomodava e não conseguia me concentrar no filme. Então que começa a mudança na vida da garotinha: ela precisa aprender a ser forte. Em breve estará sozinha e percebe que terá de se virar. O filme continua, o enredo não é lá grande coisa, conta a história de famílias esquecidas em locais inóspitos devido às intensas tempestades. Mas a câmera foca bastante o rosto da garota, bastante expressivo e natural, de modo que prende meu olhar na tela todo o tempo. O filme termina e eu saio chorando. E daí?



Lembrei que na vida real essa menina também teve de aprender cedo a ser forte: apesar do seu talento ela não ganha o Oscar (até ai tudo bem, não sei a atuação da vencedora para poder leigamente comparar) E é insultada por não suportarem seu brilhantismo. A atingiram discriminando-a, por sua idade, e indiretamente por sua cor (mulheres negras cansam de ouvir ‘piadinhas’ que as objetificam, como ser chamada de cunt...) e ela entende que não será fácil.



Quantas crianças negras terão de ‘aprender a ser fortes’ (mesmo quando não devem ser, crianças são frágeis!) por conta da discriminação de raça e gênero? Infelizmente, não sei. Mas no dia internacional pela eliminação da discriminação racial, deixo a minha homenagem a essa prodigiosa atriz.


And the Oscar goes to: Quvenzhané Wallis!

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Larissa Araújo
Indignada latino-americana, a Lari vem tentando mudar o mundo e a si mesma. O Feminismo tem ajudado bastante.


2 comentários:

Su madre disse...

Lara, não me suprendi com as ideias apresentadas no texto (já discutimos muito sobre elas), mas sua veia poetica, confeso, me emociou!

Janaina Elias disse...

Creio que o racismo de Hollywood ficou ainda mais explícito ao anunciarem o iranofóbico Argo como melhor Filme do Ano. Também me assustei com a indicação da pequena atriz, mas confesso que não percebi o tom implícito do preconceito durante a cerimônia. Assisti o filme "Indomável Sonhadora" e achei a atuação da garotinha surpreendente, mas não tive oportunidade de comparar com as outras. Porém nesse caso, como toda a premiação acho que foi tudo armado até mesmo para a garota de Dior levar o tombo e ganhar algum destaque, já que o incidente foi mais comentado do que a atuação dela.

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