Tenho, diante de mim, a oportunidade de, mais uma vez, fazer as coisas de um modo diferente. A partir de uma sociabilidade em que eu acredito, um tanto estranha e alheia à que eu tive, a partir de outros valores calcados na solidariedade, no amor, na partilha, na luta pela vida e alegria, a partir de uma nova compreensão do que é família.
Foto: Arquivo pessoal |
Ou não, a oportunidade pode vir enquanto um grande desafio, quem sabe intransponível... porque sei o quanto uma nova realidade pode atuar enquanto reconfigurante de estradas e o quanto a minha energia que hoje está tomada de tarefas importantes, de coisas que dependem de minhas mãos, minha fala, meus gestos e sedução pra acontecerem podem ser completamente redimensionadas e eu posso me perder no meio desse novo papel que eu vou assumir.
Vários medos me atingem...
Conjugar essas coisas será abrir mão da minha
potencialidade na política? Como eu vou ser mãe e fazer tudo isso? Nesse contexto tão difícil em que as pessoas
não percebem o quanto as crianças devam fazer parte da construção desse
mundo novo? O quanto as pessoas ainda não percebem que o cuidado com as pequenas e pequenos deve ser compartilhado?
E o meu existir transviado, como vai sobreviver a isso tudo? Minha liberdade, minha nudez, minha cara ao vento, meu ser sendo vento. E fogo. Meus sorrisos sacanas. O sexo compartilhado, o desbunde pro mundo... Como? O que serei eu depois disso?
E o meu existir transviado, como vai sobreviver a isso tudo? Minha liberdade, minha nudez, minha cara ao vento, meu ser sendo vento. E fogo. Meus sorrisos sacanas. O sexo compartilhado, o desbunde pro mundo... Como? O que serei eu depois disso?
Mas aí eu sorrio...
Foto: Arquivo pessoal |
É que esse medo surge misturado com uma coragem e a sensação de que
mais uma vez vou perverter as medidas e ser
desmedida sem perder o amor e sem deixar de ser tão intensa.
Como será uma mãe que é vento e fogo ao mesmo tempo?
O que é que eu vou aprontar nesse mundo?
Acho que aqueles e aquelas apegados
com
os rosários e as bíblias deveriam pensar duas, três vezes, antes de
forçarem a uma mulher como eu a ser mãe. Até porque eles não conseguem
impor isso, por mais que tentem... não sobre mulheres como eu... porque
eles não me controlam com as suas regras de não aborto. A decisão foi
minha, mas isso eu explico em outro texto.
Como será uma mãe que é vento e fogo ao mesmo tempo?
O que é que eu vou aprontar nesse mundo?
Depois de grávida, a decisão de
gestar foi minha, foi minha escolha. E quando uma mulher como eu decide
gestar, parir e criar... tudo isso está bem longe de ser o que eles entendem por isso.
Eles sabem e fazem uma cartilha tão
poderosa de como deve ser o comportamento de uma grávida que é preciso
lutar dia a dia para continuar livre. As pessoas me dizem o que fazer,
para onde devo ir e o mais forte: o que devo deixar de fazer e para onde
não posso mais ir... E isso não tem nada a ver com saúde, tem a ver com
moralidade e controle.
Mas
não. Eu continuo escolhendo. E a minha escolha não é a escolha deles.
As lutas que serão travadas pela afirmação do meu ser mãe vão contra
tudo em que eles acreditam.
Uma mãe que é vento e tempestade
Uma mãe que é vento e tempestade
O meu corpo grávido é meu. Ninguém manda nele.
Vem, criança, cresça... nasça...
Sigamos e vamos mostrar pro mundo como se ama.
E vamos incendiar o país!
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Diana Melo
"Feminista desde sempre, pra construir coletivamente o direito de
que eu, como mulher, tenha a liberdade de ser o que eu quiser ser, amar
da forma que eu quiser amar e estar onde eu quiser estar."
Maranhense, advogada militante da Sociedade Maranhense de Direitos
Humanos - Escritório Brasília e responsável pelos debates de Combate à
Tortura e Violência Institucional; Educadora popular desde 2002, a
partir da experiência do Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária
Popular - NAJUP "Negro Cosme" e atualmente colaboradora de projetos de
extensão da UNB, (Promotoras Legais Populares) e UFMA (Najup Negro
Cosme). Integrou o Grupo de Mulheres da Ilha do Maranhão e atualmente
milita no Coletivo A-grupa, que discute feminismos e relações de gênero,
" pervertendo a separação entre razão e sensibilidade". Também é colunista do blog http:// assessoriajuridicapopular. blogspot.com
4 comentários:
Diana, seu texto me deixou muito emocionada! Senti a liberdade do vento e a intensidade do fogo, um alimentando o outro assim como a mãe alimenta x filhx.
Felicidades e amor bem cuidado nesses dois coraçõezinhos para esse novo ciclo.
Gratidão pelas lindas palavras de força e de esperança!
Percebo teus medos e tenho alguns deles também. Mas não é esse o nosso desafio agora?
Uma criança sempre deverá ser luz e prosperidade. Nós veremos e viveremos isso.
Tu continuará sendo forte, fogo, vento e será mãe. Sem fazer disso uma guerra contra ti ou contra "aqueles".
Vivamos!
Acho que esse é um dos nossos maiores desafios, como dar conta dos nossos anseios e decisões quando aparentemente eles são conflitantes? A gente encontra um meio, a gente leva cabeçada sim, mas sempre dá para encontrar um caminho que consiga conciliar as coisas. Não é fácil, não é de uma hora para outra, mas existe. Beijos
Tem regra não, é amor. Não me enquadro em nenhum formato de mãe, mas no momento em decidimos ser mãe, quando deixamos que eles venham, nesse momento nos tornamos senhoras de nosso destino, donas de nossos caminhos, e viramos: alquimistas, bruxas, conselheiras,balarinas,equilibristas,feras e a mesma intensidade do riso segue o choro,quando êxitamos por uma duvida qualquer ou medo, no momento seguinte nos toma a ousadia e somos tudo a ferro e fogo . Como são nossas guerreiras e amorosas mães. Ser vento e ser fogo é a sua medida do equilibrio ,siga sendo assim leve e feroz quando necessario, um exemplo de dialetico do nosso feminino. Todos os dias te quero bem mais.
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